quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

HOMENAGEM A UM POETA VIVO - JORGE VIEGAS (MOÇAMBIQUE-1947)

Poeta JORGE VIEGAS 
É de um poeta vivo que vamos falar. Ele é JORGE VIEGAS, de seu nome completo Jorge Alberto Viegas, natural da linda cidade de Quelimane, em Moçambique. O Jorge foi funcionário de fazenda, tendo desempenhado as funções de Director de Fazenda em Nampula após a independência do país. Reside em Portugal, na outra margem do Tejo. Tem a seu cargo a parte adminiistrativa da ALAC - África, Literatura, Arte e Cultura, Lda.
O Jorge Viegas - Conheci-o de nome, de algumas publicações suas na imprensa moçambicana quando ambos residíamos naquele belo país que se chama Moçambique. Um dia, anos e anos mais tarde, casualmente conheci um Jorge Viegas quando fui trabalhar como voluntária num jornal regional "O Nova Morada" na Quinta do Conde. O nome não me é estranho, disse para mim própria, mas na realidade quem era este Jorge Viegas? De onde conhecia o nome? Provavelmente confusão com outro nome que um dia li em Moçambique, porque o POETA JORGE VIEGAS, que li na imprensa Moçambicana, não estaria em Portugal, muito menos num lugar tão pouco badalado como a Quinta do Conde. Um grande poeta devia sempre viver em lugares bem famosos, lugar que se harmonizasse com o seu estatuto pessoal, porque ser poeta, não era para todos, pensei. E não voltei a pensar. Para quê?
Vim a conhecer também a esposa, simpática, de quem fiquei a gostar muito. Mais nada.
E uns tempos mais tarde, uns anos mais tarde é o que quero dizer, encontrei-me novamente com o Jorge Viegas, numa sessão de poesia. E nessa altura, a ouvi-lo declamar as suas poesias, fiquei de tal maneira embasbacada com a sua capacidade, não só poetica mas também de declamador que apenas abri a boca para dizer entusiasmada "Maravilhoso" e as minhas mãos uniram-se num grande aplauso ao Jorge e à sua poesia.
De vez em quando pensava: Havia em Moçambique um poeta com este nome. Mas a poesia dele era pura poesia moçambicana, como se a poesia fosse pertença de um país e não de toda a gente que a ama, que a admira. Este Jorge Viegas dizia poesia de muitos autores e praticamente pouca dele. Dizia tão bem poesia de José Régio, como de Camilo Pessanha, como de ... e ficava-me a ouvir a sua voz nos poemas maravilhosos que escolhia para declamar.
Na ALA - Academia de Letras e Artes de Portugal,em 2011,
numa interpretação do poema de Fernanda de Castro
"Se os poetas dessem as mãos"
Eu coordenava e coordeno eventos de Música e Poesia. De Poesia e Música e Teatro por vezes, porque a poesia é a palavra para ser dita em todos os tons e nuances, para ser musicada, para sr fantasiada no teatro. Poesia é brincar com palavras, como disseram vários poetas e refiro aqui um talvez menos famoso que outros que poderia mencionar, Jo´se Paulo Paes (Brasil 1926-1998).
Em 2011 - Pelo livro que tem na mão, Jorge Viegas lendo o poema
"Muana"(premiado pela Actis) que inicia o romance
de minha autoria "Mãe Preta"
Mas vamos enrolar o fio na meada: A falar de Jorge Viegas, um dia convidei-o para dizer e declamar (porque há diferentes maneiras de pronunciar o poema, mas disso tratarei noutro artigo um dia destes). E ao ouvi-lo dizer um poema seu, catrapuz... não, não cheguei a dar uma queda assim tão aparatosa que fizesse "catrapuz"! Mas pensei para comigo: Não tens vergonha Celeste de não teres reconhecido um POETA, um GRANDE POETA? Passar e falar com o Jorge Viegas, embora sempre com muita consideração, mas não o reconhecer como aquele tal poeta, nem sei o que diga... 
Por isso aqui estou para me penitenciar e deixar-vos a identificação poética do POETA JORGE VIEGAS:
Em Sesimbra, no dia do lançamento do romance "Mãe Preta", Jorge Viegas
vendo-se a vice-presidente da Câmara/Vereadora da Cultura Drª. Felícia Costa,
a autora  Celeste Cortez e a
grande declamadora Elsa de Noronha (filha do poeta Rui de Noronha) 
- Entrou com poemas seus no "No reino de Caliban". Publicou em Moçambique o livro de poemas "Os milagres (1966. Em Portugal "O Núcleo tenaz" (1982); "Novelo de Chamas" (1989). Tem outros poemas seus incluídos nas seguints antologias: "No Reino de Caliban III" (1985, "Só poetas africanos" (1989), "Nunca é mais sábado" (2004) e "Poets of Mozambique")2006). Poderá ter mais que eu desconheça, podendo actualizar mais tarde.
Analisando a sua personagem, se tenho o direito de o fazer, aqui deixo o que penso, sem contudo julgar saber tudo o que seria preciso para dele falar. Os poetas são fingidores mas tenho a certeza, a certezinha que o Jorge Viegas é das pessoas mais verdadeiras que conheço. Na sua simplicidade, julga mesmo que não existe ou que se existe, não tem valor. Mas tem, o Jorge tem imenso valor. Nele não há vaidade.  

Deixo escrito uns poemas dele, para se deliciarem. Sei que gostarão. Em breve, noutras páginas, publicarei mais.  



CIRCULO DE SOMBRA  - Soneto dedicado ao grande poeta RUI KNOPFLI

A minha alma é um círculo de sombra.
Os meus poemas são a pálida mensagem
dum homem melancólico. Se sou poeta,
decerto não o sou do tempo presente.

Escrevo poemas de amor, e os meus poemas
não conduzem os povos à contestação.
Gosto de passear nas ruas a antiga liberdade
que eu sei haver nos poetas que mais amo.

Uma liberdade que não conduz a nada,
uma liberdade que não explica nada.
Leio velhos filósofos de antigamente,

e velhos poetas, mais velhos ainda.
De quando em vez, monólogos em surdina.
A minha alma é um círculo de sombra.   (Página 51 do livro ?)

Na ALA - JORGE VIEGAS interpretando um poema seu
OS RETRATOS

Os retratos, as delídas imagens de outrora
Revivídas, ao pausado virar de cada folha.
A íntima comoção, o enlevo de quem olha,
E nitidamente vê refluir, nos espaços de agora,

Os velhos tempos de antigamente. Na neblina
De memória, o passado se confunde com o presente,
Adivinha-se o futuro claramente,
E a vida inTeira nos cabe na retina. (26-6-973 (Pág.64 do livro ?)
Na ALA - ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE PORTUGAL, interpretando um poema seu. 

















LÍRICAS

Hoje, eu vou escrever um pequeno poema humilde.
Não será um poema devastador.
Será um pequeno poema humilde,
Para que caiba na tua mão fechada, meu amor.

No céu limpo e sereno, aves negras adejam.
O teu corpo tem a luminosidade
duma concha molhada, quando emerges
da brancura das ondas que espumejam.

Meu amor. Minha solidão crescente
Meu poema sempre por acabar.
Minha largura mais vasta do que o mar.
Minha clareza mais que o Sol nascente.
Minha incerta voz adolescente.

Na asa do vento, eu sei que chegarás
tão profunda e tão doce como a música,
tão certa e inadiável como a morte,
e nenhuma palavra te definirá.            (Pág.34 do livro ?).

O artigo é grande, mas JORGE VIEGAS como homem e como poeta é maior, podem crer. Devia ser mais conhecido. Temos tanto autor que valem muito menos e são mais famosos. É pena.
Deixo aqui um agradecimento ao Jorge pela colaboração que nunca me negou nos eventos que dirijo, que coordeno, embora suponha que não lerá este artigo porque, a sua utilização das novas tecnologias baseia-se ao telemóvel. 


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